terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Serei(a)mor.

Quando criança, pensei por muitas vezes
ouvir no horizonte a brisa do seu canto.
Ainda não havia me lançado às águas do mundo,
para ter a certeza de onde vinha esse encanto.
Crescendo em meio a um mundo de desencanto.
Sabendo a dor de uma jornada longa,
Grita meu corpo, desde o início,
sempre a clamar pelo teu encontro.
Desde que o mundo me foi apresentado
navego por águas rasas e profundas.
Tentando discernir, aquele canto
que de longe, em vigília,
cuidava sempre em silêncio
até dos mais leves dos meus sonos.
Me disseram por várias vezes
que o caminho da vida é como navegar.
Já que não se pode ter medo
dos rios e mares que irá encontrar.
Beirando a superfície,
ouço cantos em águas rasas.
tornando fácil a descoberta
que o canto que procuro, por lá não está.
E das profundas que mergulhei
por mais que a vontade insistisse,
jamais até então, ouvi de verdade o seu cantar.
Parece uma jornada interminável,
tanta água, tanta vida, intensamente vivida.
Quando ouvia cantos parecidos
por vezes apreciava, mas no fim,
acabava sempre tapando os ouvidos.
Assim, numa noite inesperada,
em meus ouvidos o vento sussurra o teu cantar.
Parecia que todos os detalhes do mundo
assim como luzes na escuridão,
me guiaram para este caminho
como se fosse o único lugar,
em que poderia lhe encontrar.
E encontrei.
Aproximei meu barco do cais,
parei pra ouvir seu canto.
Tantos anos em águas turbulentas,
que na mais calma delas,
talvez eu não saiba como me comportar.
Desta vez, tudo ficou calmo.
Só meu coração sabia o que falar.
Se tivesse chegado mais perto
ouviria meu peito gritar,
assim como pulsa no navio,
aquele velho sonar.
Era este o canto, que desde criança,
o tenho guardado preenchendo
muitas das minhas lembranças.
Ela, que em seus cantos silenciosos
ecoava pelas veias do mundo.
Guiou meu rumo pra perto, 
e assistiu sorrindo meu navegar.
Mal sabia a sereia, que o grande amor desse marinheiro
começava na busca pelo seu canto,
pra finalmente em um abraço descansar.
Cantou tão alto e forte, que já não podia respirar.
Veio como um sopro em meus ouvidos,
assim como a brisa venta no mar.
O que serei do amor, o que serei(a)mar.